Jogos Olímpicos 2024: medalha de ouro em ESG e diplomacia para a França
José Luiz Souza de Moraes*
Os Jogos Olímpicos sempre deixam algum legado para o país onde eles ocorrem. A própria origem do maior evento multiesportivo se confunde com a diplomacia: na Grécia antiga, as disputas entre as cidades-estados gregas antigas eram levadas não a cabo de guerras de conflitos armados, mas sim de confrontos entre os melhores desportistas de cada uma dessas regiões. Esse modelo resolutivo renasceu na Olimpíada moderna pelo Barão Pierre de Coubertin, coincidentemente, um francês.
Na história, a França parece ter se preocupado muito com esses legados. Nesta edição, em Paris, a marca da sustentabilidade e da destinação dos edifícios e das alterações urbanas se tornou uma realidade, o que não ocorreu no Brasil em grande parcela das obras realizadas no Rio de Janeiro, que ficaram totalmente abandonadas. Apresentando um dos mais modernos patamares normativos a respeito da exigência de uma postura sustentável, ambiental, social e de governança também para as empresas – o que hoje nós chamamos de ESG – a França, certamente, tem a sua legislação como uma das mais modernas do mundo, somente comparáveis à canadense e à alemã. Essa exigência chocou até mesmo alguns atletas que perceberam, por exemplo, que as camas são feitas de um material muito similar ao papelão, todos absolutamente recicláveis.
A influência diplomática do país recai também sob seu próprio idioma oficial. São vários os destaques na história da França quanto ao campo do Direito Internacional para a superação de desafios internacionais no exercício da soberania. Como exemplos, a própria paz de Vestfália, os encontros de Viena, as convenções de Viena da era pós-Napoleônica, o próprio Tratado de Versalhes de 1919, que criou organizações internacionais importantíssimas, como a Liga das Nações e a até hoje existente Organização Internacional do Trabalho. Sediar a última (e importantíssima) Convenção Internacional sobre o Clima, que é justamente o Acordo de Paris que sediou na COP 21, trazendo os mais importantes estândares do Direito Ambiental Internacional a respeito das mudanças climáticas.
A realização dos Jogos Olímpicos representa uma responsabilidade diplomática em todos os países. A França tem tudo para se destacar nessa missão durante e pós-evento, que é mais custosa do que benéfica, mas certamente benéfica do ponto de vista das construções e do investimento público que envolvem as competições. A Olimpíada confere à França como um país que está à frente da União Europeia, se destacando dos demais como uma liderança regional.
Além disso, esse papel de destaque funciona muito como o soft power que foi tratado nas relações internacionais promovidas pelo país – entre elas, o presidente Emmanuel Macron e sua esposa e primeira dama, Brigitte Macron, recepcionando as demais lideranças mundiais durante o evento. O papel de protagonismo está aliado às lembranças de todas as conquistas francesas para a humanidade, principalmente em relação à Revolução Francesa e o próprio Iluminismo reveladas em toda a nossa história, encontrada nessa fase histórica da modernidade até hoje, graças à Revolução de 14 de julho de 1789. Agora cabe ao país trazer essas medalhas de ouro em ESG e diplomacia com o papel histórico à baila, especialmente nas festividades de encerramento.
*José Luiz Souza de Moraes é presidente da Associação dos Procuradores do Estado de São Paulo (APESP). Mestre em Direito Internacional na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Graduado em Direito Francês na Universidade de Lyon – Jean Moulin 3. Professor de Direitos Humanos, Direito Internacional e ESG.