O Eu feminista pede licença para falar, por Juíza Luciana Aglantzakis

Juíza Luciana Aglantzakis é colunista do JusTocantins. É membro da Academia Tocantinense de Letras, Associação Brasileira das Mulheres de Carreira Jurídica (ABMCJ), especialista em Direito Constitucional, Eleitoral e Jurisdição, Mestre em Ciências Jurídicas, pela Universidade de Lisboa. Tudo isso associado à carreira de escritora.

Algo de gênero perpassa o meu ser e não é pouco. Exige voz, igualdade e respeito. Usa saia, batom, sapato alto, gosta de unhas coloridas e não tem medo de cara feia.

Este ser também gosta de cozinhar um arroz soltinho com alho socado e com um queimado na panela. Gosta de ler almas, vidas e conflitos.

Ele Encontra um mundo de gente má que acredita piamente que  Deus aceitou diminuir o status do gênero feminino. Até hoje não sei por que aconteceu isso e bem reparo que transformou o mundo em algo míope que vem se engabelando com posições machistas porque não acredita que as mocinhas foram à luta, estudaram, aperfeiçoaram-se, romperam barreiras e descobriram que o mundo não é cor-de-rosa, mas também não é azul, talvez verde de serenidade e igualdade.

Todos nós precisamos de um porto seguro e a mulher que por essência é mãe e criadora da vida não pode ser escrava de comportamentos repetitivos e machistas da pós-modernidade. A mulher percentualmente é o gênero mais populoso da terra e nem por isso consegue se destacar igualmente em qualificações no mercado de trabalho em grau de igualdade com os homens.Esta guerra invisível de um mundo dividido não corrobora com o bem comum de todos e as guerras  visíveis dos lares domésticos se iniciam pois já não se comporta que somente as meninas fiquem responsáveis pelos afazeres domésticos, nem tampouco as mulheres, pois os deveres domésticos pertencem a família, da mesma forma que os frutos de uma casa arrumada e eticamente habitável é uma conquista dos habitantes do lar.

Atualmente as famílias estão hibernando dentro de casa e os homens estão vendo em câmera lenta o trabalho remoto interligado com o trabalho doméstico e o senso comum está auxiliando numa justa divisão na rotina diária de cuidado diário do lar doméstico. A  pandemia fez com que muitas famílias dispensassem colaboradoras e secretárias domésticas em prol do medo, do vírus e novos hábitos surgem para auxiliar o trabalho doméstico, como a compra de robôs para retirada de sujeira, máquinas de lavar louça e de roupas, ferros de vapor pequenos e práticos, mops de limpeza em vez de vassouras , rotinas de compras de deliverys, bem como alimentação saudável e rotinas de prática de exercício físico pela internet. A casa da família tornou-se multifuncional: local de descanso, trabalho, lazer, exercício físico e de desabafo porque também não se pode ir às ruas, esquinas e praças para exercer seu direito de expressão. As Paneladas, um direito de expressão antes do Covid 19, servem como exemplo útil para exercer o direito de expressão, sem falar nas mídias sociais que nunca tiveram tantos novos expectadores. Talentos novos nascem e a solidão repercute como uma semente de germens adormecidos. Na minha casa, a minha filha Ingrid criou um instagram Baú da Pitoco com objetivo de divulgar conteúdo de arte e de obras artísticas, pois tem o talento de pintar obras de pásteis. Eu,  voltei a escrever e consegui editar um livro e entrar na academia palmense de palmas, mas ainda não sei quando vou  fazer a tão sonhada noite de autógrafos, pois fazer isto virtual é muito sem graça e aguardo licença ao Covid, para este evento, na forma padrão e presencial.

Diante deste novo quadro lúdico e não lúdico de mundo pós covid 19 o eu feminista fala mais, ele já não é tão rosa, é azul, amarelo, colorido. Os generais masculinos estão confinados com os soldados, tenentes, capitães, com os serventes, os cachorros e os gatos. Estamos todos no mesmo barco e o mar dizendo: fiquem quietos, amem-se mais, vamos ter fé! Os afoitos se atiram no mar, morrem, não aguentam a febre, o tubarão come as mãos, são entubados e morrem com falta de ar ou com os pulmões encharcados, alguns infartam. Muita dor, e ainda tem habitantes deste barco que ficam gritando sem discurso, ausência de empatia, e por terem o timão do barco querem ultrapassar esta segunda onda com soluções mágicas.

O mundo de fora do barco mudou. Exige igualdade em todos os sentidos. Fale o que sente, com sentimento pois a autoridade do momento é a verdade, o amor, cidadania, o sentimento. Um bom governante adota boas ideias e tem compaixão pelo seu povo. O  Eu feminista está no bom governante que  sabe que somente nasceu porque teve uma mãe, ou ainda tem uma mãe e deve pedir benção e respeitá-la.

Quando os discursos de falta de igualdade cessarem talvez este vírus vá embora e  a casa isolada, a sua casa, se transforme em uma nomenclatura nova que denomino de “ nossa casa”, pois iremos habitar um mundo comum que preza igualdade, respeito e cidadania.

O mundo precisa de boas oradoras. Alie-se nesta luta, fale!

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