Na última terça-feira, 6, o delegado de Crimes Cibernéticos, da Secretaria de Segurança Pública do Tocantins, Romeu Fernandes, compareceu à Universidade Federal do Tocantins (UFT) para esclarecer dúvidas sobre crimes cibernéticos. Segundo dados da pesquisa realizada pela Check Point Research (CPR), o Brasil registrou um aumento de 1% nos ataques cibernéticos semanais por organização, em um total de 1.593 em média de ataques por semana no período de janeiro a março de 2023.
E o estado do Tocantins enfrenta uma situação preocupante, com um crescimento superior a 100% nos crimes cibernéticos aplicados virtualmente contra as vítimas. Em 2022, o número de ocorrências ultrapassou a marca de 2 mil e deixou evidente a urgência em combater essa crescente ameaça à segurança digital.
O delegado compartilhou informações e orientações importantes como os principais tipos de ataques virtuais, as formas de prevenção e os procedimentos adequados para reportar e lidar com esses crimes para a comunidade acadêmica e demais presentes. A aposentada Dona Maria Raimunda Bezerra de 72 anos, neste ano de 2023, foi vítima desse tipo de golpe , que de acordo com o delegado ganha o nome de falso perfil do WhatsApp.
A idosa conta que recebeu uma chamada da filha mas do outro lado, alguém dizia estar em posse do celular dela e com a suposta vítima, caso a aposentada não depositasse o valor de 1.500 na conta que mandaram iriam matá-la. “Era a foto dela que aparecia, como poderiam estar com o celular dela? Eu fiquei nervosa, pedi para que não fizessem nada com a minha filha e então fiz o pix , pedi apenas para que deixasse ela ir em paz”, declarou dona Maria Raimunda.
Não foi registrada a queixa, porque segundo familiares da aposentada não tinha como reaver o dinheiro então não iam mexer com isso. Para casos como esses o delegado enfatiza que mesmo que o dinheiro não seja recuperado, é importante registrar esses tipos de casos na delegacia para mapeamento a fim de encontrar rastros desses bandidos e procurar mecanismos no intuito de parar essas ações criminosas.
Romeu Fernandes falou sobre o perfil fake, onde aparece a foto real que a pessoa utiliza no WhatsApp. “Esses criminosos aprendem muitas coisas utilizando-se da tecnologia, então é importante alterar as configurações de segurança das redes sociais, permitir que apenas números adicionados tenham acesso a sua foto de perfil e demais informações. É algo básico , mas você evita essa modalidade de golpe pois a pessoa vai tentar adicionar o teu número e não vai saber a foto que está sendo utilizada no seu perfil e se o criminoso não conhece o seu rosto, fica mais difícil se passar por você e a chance do golpe dá certo é bem menor”, ressaltou o delegado.
A estudante Flaviane Luz, 34, moradora da região sul de Palmas, em 2022 , também foi vítima de golpe, só que nesse caso o golpe sofrido pela estudante de acordo com o delegado recebe o nome de “Bem Bolado” é o que tem lesado mais pessoas no Tocantins. O criminoso se apossou de um anúncio de uma loja que vendia motocicletas, uma boa oferta e um número de telefone disponível, a estudante entrou em contato com o suposto vendedor e o nome era de fato de um dos vendedores da loja real, a vítima confessou que ficou receosa, mas o bandido forneceu tantos dados, até chamada de vídeo e mostrava a loja que fica no município de Colinas do Tocantins.
Ao longo de 5 dias de negociações Flaviane resolveu fazer o depósito na suposta conta da loja no valor de 3.000 reais, depois disso, o golpista ainda confirmou com a vítima que a moto chegaria pela transportadora em Palmas no mesmo dia e assim que chegasse ela depositaria o restante, nada do que foi acordado aconteceu, a estudante caiu no golpe que lhe custou um dinheiro guardado para realizar seu sonho de comprar sua moto. ” Quando eu percebi que havia caído em um golpe fiquei arrasada, me senti um lixo, eu sabendo de tantas coisas , atualizada sobre tantos assuntos, como fui cair em um golpe assim, fiquei destruída”, disse.
Flaviane foi até a delegacia da Polícia Civil que fica na avenida Teotônio Segurado, mas quando soube pelos policiais que dificilmente conseguiria o dinheiro de volta, saiu sem registrar ocorrência. ” Quando percebi que não teria meu dinheiro de volta e que dificilmente encontrariam os criminosos eu não pensei duas vezes e sai dali, queria que o pesadelo acabasse e o que fiz foi tentar não pensar mais nisso, perdi, eu vou lutar e conseguir de novo,” concluiu a estudante.
O delegado de Crimes Cibernéticos, salientou que na realidade eles não tem todos os recursos e meios para atender todos os casos e as estatísticas são monstruosas, afirmou que chegam muitos casos na delegacia para poucos agentes que trabalham nessa frente e que se abrissem todos os casos não conseguiriam fechar nenhum. “Em Araguaína eu recebia em média mais de 100 ocorrências por mês e não acontecem apenas esses golpes, são muito mais , mas o que chegava oficialmente pra nós era isso aí. Éramos , um delegado de polícia, dois escrivães e uns 4 agentes, são investigações complexas, trabalhosas, então infelizmente a realidade impõe essa necessidade da gente agir de forma seletiva, golpes de valores maiores são priorizados, mas todos são atendidos”, frisou Romeu Fernandes.
Romeu deixou claro que independentemente a lei deve ser cumprida, o delegado de polícia tem que instaurar investigação de todos os casos que chegam à delegacia. E pontuou que a segurança pública precisa de mais investimentos em aplicativos, equipamentos, pessoas e tecnologia , para que todos os casos sejam investigados e sanados, mas que as equipes têm recebido qualificação para lidar com esse tipo de crime.
Também ressaltou a importância de registrar queixa e ficar atento a todos os tipos de golpes, segundo ele, se for algo suspeito seja nas redes sociais , telefone , e etc. procure ajuda, pesquise, peça informações a outras pessoas e na dúvida procure a delegacia.