A Rosa que queria ser AZUL, por Luciana Aglantzakis
Certo dia cotidiano da primavera, a rebeldia invadiu o jardim.
Não teve mariposa e vespa que não ficou inerte a revolução das rosas, algo que não era previsto na natureza.
Um menino jovem observava uma flor rósea desconsolada e perdida.
A rosa murchava e depois inadvertidamente subiam suas pétalas e sem a presença do vento ou orvalho disponível, mesmo assim as pétalas pareciam querer sair do tronco da rosa.
A criança resolvera conversar com aquele ser inanimado, pois era uma criança e a pureza justificava tirar dúvidas de alguém que não fala. Apenas exala.
– Jovem rosa, por que MOTIVO está tão triste? O sol está quente? Falta água para refrescar?
– Ela responde inadvertidamente:
– Queria ser azul e imortal. O céu é privilegiado e nunca murcha. Ele muda de lugar e tem várias nuvens viajantes ao seu lado. Eu, pobre de mim, uma flor rósea e feia que na verdade todos gostam mesmo é de arrancar minhas pétalas.
– Menino a sensação que tenho é que Deus castiga os seres róseos, e há uma divisão injusta de classes . Não entendo porque os amantes gostam de um ser tão sem graça como eu. Queria logo morrer, que se murchasse tudo em mim!. Não tem sentido ser Rosa e rósea neste mundo!
O menino sentiu pena tremenda e atreve-se numa tentativa de animar a pobre rosa.
– Lá em casa dona Rosa, certo dia quando me escondi atrás da porta , ouvi mamãe resmungar que os homens é que são felizes! Eu achei aquilo tão esquisito, pois se eu não tivesse nascido de uma mulher jamais estaria vivo. Digo isso porque o róseo é a cor preferida das mulheres.
– Mas o céu é tão lindo, e às vezes quando estou triste o céu aceita que fios rosas saiam no crepúsculo para formar uma mistura belíssima com o azul
A rosa, dispara:
– Se eu fosse azul, talvez ,não morresse!
O menino não aceita a justificativa e dispara:
– Pois o Deus pai todo poderoso, prefere a cor rósea para as rosas, e acho que nunca vi uma flor verde ou azul. Talvez de papel, ou de algum local raro, um deserto quem sabe. Se ele te fez rósea é porque se trata da cor perfeita para você.
A rosa chora chora chora… orvalhos disparam em pétalas feridas.
Um pouco de coragem assume uma voz doce e juvenil:
– O universo é um mundo misterioso das cores e eu criança adoro desenhar, amanhã quando eu estiver na minha sala de aula prometo desenhar um céu róseo e você será azul.
No outro dia o jovem fez a artimanha, um desenho diferente, e o professor o recriminou pessoalmente que aquilo estava errado.
O jovem não entendia o comportamento do mestre, pois o professor antes de criticar deveria ouvir o pupilo. Ele apenas estava fazendo o quê achava correto!
O desenho da sala de aula virou discussão no conselho de classe.
Um jovem diferente, um jovem desafiador. Os pais deles certamente não sabiam que o menino poderia estar com algum problema. E discussão de gênero, ou preconceito foi o primeiro tópico que deveria ser tratado com os pais daquela criança.
No outro dia, a mãe do jovem ,quando foi buscá-lo na sala de aula, estranhou o questionamento preconceituoso dos professores de que o jovem gostava muito de róseo e que não era correto desenhar um céu roséo.
– A mãe deu uma gargalhada. E disse: – Ele quer revolucionar a natureza, pois acha que as flores estão cansadas de tanto róseo. E entende que o céu azul está cansativo de ser azul , bem como falou que o céu está chateado porque vive massacrando os demais seres da natureza.
– Ele apenas quer politizar coisas inanimadas. Coisas de criança. Imaginação fértil. Uma criança diferente e sensível, nada demais!!.
– Quem sabe um dia ele vai ser pintor de quadros, pois gosta das cores e das rosas!.
– Este colégio deveria incentivar outras crianças em mudanças de tonalidade nos desenhos da natureza. Tipo assim? Nada mal o cachorro ser verde e o homem roxo, o céu róseo e as flores verdes ou violetas. Brincar em colorir a natureza para que no discernimento das coisas sérias não se tornem adultos críticos e preconceituosas.
Dedico essa estória as Doutoras Rosas, mulheres que usam a sabedoria no tratamento das cores e os meninos que gostam de exercitar a curiosidade.
E ASSIM acaba a estória da flor que queria ser azul. Durma no céu róseo. Boa noite!